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Se a tentiada é livre…

Hoje tivemos um encontro muito proveitoso com pesquisadores do Future Concept Lab, incluindo o sociólogo Francesco Morace, que já realizou diversas pesquisas para empresas brasileiras, e escreveu o livro DNA Brasileiro, sobre a identidade do nosso povo.

Logo no início da apresentação, Paolo Ferrarini, pesquisador do mesmo instituto, se apresentou como especialista em tendências de comunicação e estética. Na minha cabeça, as palavras tendências de comunicação nunca mais pararam de martelar. Quase não prestei mais atenção no que o moço falava de tanto que eu pensava em alguma forma de questioná-lo sobre o tema.

No final da palestra, no momento em que estávamos fazendo as perguntas, quis saber sobre como buscar mais informação sobre as pesquisas deles em comunicação. Afinal, a tentiada é livre… Para a nossa surpresa, fomos convidados a participar de um Seminário, que acontece nessa quinta-feira, justamente sobre o assunto.

Eu tô mais do que radiante com o convite. Meus olhos não pararam mais de brilhar! Taí, cada vez mais eu gosto da Itália! 😀

So far so good

Tenho que admitir, o esforço tem valido a pena! A Itália, principalmente quando vista do ponto de vista cultural e artístico, está se mostrando muito interessante. O povo também tem me surpreendido em alguns casos, mas reforço que Milão nunca foi o problema.

Na verdade, minha antipatia com a Itália deve ser totalmente credita a três cidades em especial: Nápoli, Veneza e Roma. Não necessariamente nessa ordem. A Dorotéia, coordenadora aqui da Missão, falou que isso é normal. Que os próprios Italianos consideram apenas o norte da Itália e que o sul é hoje a parte menos desenvolvida. Só receio colocar Táranto, que foi tão agradável, nesse mesmo saco!

O fato é que, chegando aqui, peguei um táxi cuja motorista se achava a própria Laura Pausini. Em outra época, eu diria que ela era uma mau educada e que não estava considerando minha presença dentro do carro. Como vim de coração aberto, me considerei uma pessoa de sorte por ter pego uma motorista cantora, feliz e relaxada. A probabilidade de ela brigar no trânsito seria menor (che non è propriamente vero!).

Além disso, hoje visitamos algumas obras dos grandes artistas italianos: uma sala, pintada por Leonardo e a Pietá de Rondanini, de Michelângelo. O bacana é que essas obras não têm proteção e é possível admirá-las por inteiro: visão, tato, olfato e interpretação. É realmente uma riqueza cultural muito grande!

So far so good! Acho que estamos nos entendendo bem até agora! E a tendência é melhorar…

Comida de avião

Comida de avião também merece um post a parte. É sempre ruim, muito ruim! Pelo menos aqui, na classe econômica. Já vi reportagens sobre chefs renomados preparando a comida das classes executiva e primeira, mas du-vi-do que seja muito melhor do que a daqui do fundão.

Para o jantar, é normal termos que escolher entre carne ou massa. Como se os dois não pudessem vir juntos! Fico com a carne, como sempre. Dessa vez o acompanhamento era abobrinha, cenoura refogada e arroz. A carne, em si, parecia ter passado horas na pressão, banhada em água sem tempero. Eita coisinha bem ruim!

Ainda estou na metade do meu vinho e o comissário já aparece trazendo o café. Digo que ele esta muito adiantado hoje, que nem tomei ainda o terceiro round do vinho. Ele, simpático, diz que me trará um café mais tarde, quando eu quiser. Dá um tempo e ele volta para recolher as bandejas. No carrinho, garrafas de digestivos e, entre eles, Bayles. Faço um calculo rapido de calorias, considero a falta de almoço e decido. “Acho que vou tomar um Bayles ao invés do café!”.

Normalmente uma hora antes de atingirmos o destino, inicia-se a movimentação do café da manhã. Acho que essa parte é ainda pior. Umas frutas para salvar a pátria, um iogurte para manter o intestino em dia (que eu, particularmente, tenho lá minhas dúvidas sobre se ele realmente deveria ser servido em um avião), uma pão com mantega, requeijão e geléia (que eu nao posso comer por ser carboidrato e vão, quase que automaticamente pra vizinha), e o toque final: ovos.

Os ovos variam entre omelete, ovos mexidos e quiche. Dessa vez, serviram esta última. Seu lá, ovo ja é um negócio meio do mal, imagina em avião? E olha que pra mim, os ovos ainda são o de menos. Muito pior é o molho de tomate e o espinafre refogado que vem junto. Perai, nao era café da manhã?

O jeito é mesmo esperar pelo desembarque para tomar aquele capuccino com bastante leite vaporizado. Por enquanto, fico na água com gás que já tá de bom tamanho!

Antes do trecho mais longo

Quão rica é uma experiencia como essa? Tanto que um post já se foi e eu sequer cheguei em São Paulo. A situação não era muito diferente de Porto Alegre. Nao sei se havia um ciclone por aqui também ou se era apenas o movimento do feriado. Ou se era uma combinação dos dois. Fato é que o aeroporto de Guarulhos, como sempre, estava lotado. Era fila para o check in (menos pra mim, é claro!), fila para entrar na sala de embarque, fila para passar pelo raio x, fila para passar pela policia federal, fila para conseguir sair do free shop… Dá pra imaginar o fuzuê, né?

Nessas horas, as crianças se destacam. E um palpite furado atrás do outro, e um bando de pais sem saber o que fazer, perdidos, tentado saber se o que o filho está dizendo faz sentido ou não. O mais comum, nesses casos, é a criança olhar pra fila do lado e dizer: “Papai, vamos para aquela fila, não tem quase ninguém!”. O papai, coitado, fica atordoado, dando razão ao filho, sem saber que a fila ao lado e para outro tipo de embarque, obviamente…

Lembrei agora do meu ultimo vôo, mês passado, para Paris. Havia uma família do meu lado. Mãe, filho e pai, nessa ordem. O menino deveria ter uns 10, 11 anos e entrou no aviao enlouquecido, faceirito no mas. Pegava o cobertor, depois o travesseiro, destravava a mesinha, acendia e apagava as luzes. Certa feira chegou a dizer: “mas esse avião é tudo de bom!”. Isso tudo e estávamos de Lufthansa, que nem televisão individual tem. Já pensou ele de Air France? Mas durou pouco a alegria, bem como era de se esperar.

Logo de cara ele resolveu implicar com minha luz de leitura. Cada vez que eu apagava, vinha um “finalmente!”, e cada vez que eu acendia, podia ouvir claramente um “ah, nao!”. Eu, é claro, resolvi comprar a briga e li, quase que de uma vez, um livro inteirinho. Mas não sem apagar e acender a luz vez que outra, só para ouvir os lamúrios infantis reprimidos imediatamente pelos pais.

Mas voltando a São paulo, eu finalmente consegui me sentar e, próxima a uma tomada, colocar o note pra carregar. Minha ideia era ver um filme ou alguns episódios de True Blood enquanto aguardava, mas não poderia desviar da minha missão observatória e optei por comprar umas horas de internet e manter os olhos bem atentos.

Entre um bebe fazendo vrum vrum com uma mala pra cá, e um casal discutindo a relação acolá, percebi que os tais assentos marcados não servem de muita coisa. Acho que humanos são impacientes por natureza e, logo que chegam ao portão de embarque, resolvem fazer fila. Um chama o outro e, quando se vê, estão os funcionários da companhia aérea, desesperandos, tentanto fazer com que todos sentem e aguardem serem chamados de acordo com a ordem do embarque. Na maioria das vezes nao surte muito efeito!

“Atençao senhores passageiros do vôo Lufthansa 0507 com destino a Frankfurt e demais conexões. Seu embarque será realizado atravás do portão de número 24. Pedimos que passageiros viajando em primeira classe, classe executiva, gestantes, idosos, portadores de deficiência, membros com cartão senator ou gold, dirijam-se ao portão localizado ao lado direito do balcão”. Era a minha deixa! Entrei na lata voadora!

Partiu Frankfurt!

Uma nova chance para a Itália

Amanhã embarco novamente rumo à Itália. Minha relação com esse país já vem de longa data, mas não posso dizer que é uma relação amigável. Nossa história é cheia de trancos e barrancos, de tapas e beijos! Mas agora eu estou disposta a mudar isso! Quero aprender a gostar da Itália. E vou…

Tudo começou com o fatídico mochilão de 2006. Nós aqui do sul, acostumados com imigrantes e descendentes de italianos, temos uma imagem muito positiva daquele povo: alegre, simpático, festeiro. Logo, programamos um bom tempo para desbravar as principais cidades da bota. Roma, Napoli, Milão, Florença, Veneza! Todos nossos destinos. Mas infelizmente, o que encontramos por lá não foi nada agradável.

Logo de cara, nos deparamos com gente arrogante, mau educada e que, definitivamente, não gostava de ver turistas caminhando por suas ruas. Até os comerciantes faziam questão de deixar claro que éramos seus desafetos. Ainda mais mochileiros, duros e sem espaço pra carregar nenhuma compra. Foi um terror! Em Veneza eu cheguei a desejar que a cidade inteira afundasse de uma vez. Aliás, desejei que o país inteiro afundasse! Sei que isso não foi legal, mas desejei! Quem disse que a gente precisa ser politicamente correto em momentos de raiva?

Em Milão e Florença as coisas foram melhores. Pelo menos fomos tratados com certa educação e a beleza das cidades nos fez respirar e esquecer um pouco do que havíamos passado. Depois do mochilão, já retornei a Milão algumas vezes, e foi sempre bom. Aprendi a gostar da cidade e hoje tenho relações de trabalho com italianos que adoro! Depois fui visitar o Dudu, meu amigo querido, lá em Táranto, no sul, no ângulo do salto da bota. A cidade não é turística, então foi muito agradável ver os italianos do jeitinho que eles são! E gostei!

Ainda assim, nada me tira da cabeça as lembranças ruins. Deve ser algo meio escorpiônico, de rancor e vingança. Ainda acho que o melhor da Itália é a facilidade que se tem de chegar na Croácia, pois lá sim, é que é o paraíso! Mas como eu disse, isso precisa mudar!

Aí eu li, como todos já sabem, o livro Comer Rezar Amar, da Elizabeth Gilbert. A primeira parte, o “Comer”, quem diria?, se passa na Itália. A autora descreve sua experiência de morar três meses por lá, aprendendo sobre a cultura italiana de sentir prazer sem culpa. O livro me encantou e, consequentemente, repensei algumas coisas considerando as experiências de Liz.

Dessa vez vou a Itália de coração aberto. E como um dos objetivos dessa viagem é justamente educar o olhar, vou com a intenção de experimentar uma nova Itália. É uma nova chance! E ela que não me decepcione!

A mala

Dizem que errar é humano, mas com certeza errar duas vezes do mesmo jeito, é no mínimo suspeito. Pois eu fiz isso. Cometi o mesmíssimo erro duas vezes quase seguidas. A consequência? Eu cheguei em Paris, minha mala, não! De novo!

A Lufthansa é uma companhia aérea alemã. Logo, todo vôo deles para, obrigatoriamente, ou em Frankfurt ou em Munique. Isso acontece mesmo no trecho São Paulo – Paris. Passa por Paris, vai a Frankfurt, troca de avião e volta pra Paris. Sem lógica, eu sei, mas é o que é. Muita vezes a Lufthansa está entre as companhias que oferecem vôos mais baratos, portanto, tenho que enfrentar essa maratona quase sempre.

Aí teve uma vez que a conexão em Frankfurt foi super curta. Desci de um lado do aeroporto e corri a São Silvestre até o outro para conseguir embarcar em tempo para Paris. Conexão curta só pode representar uma coisa: extravio de mala! Bom, não foi bem um extravio o que aconteceu, pois a Lufthansa sabia onde estava a minha mala. O problema é que eu estava em Paris, ela não. Muita negociação depois, consegui uma graninha pra jantar e me deixaram esperar no próprio aeroporto. Minha mala viria no próximo vôo. E veio! Alívio!

Aí chega a próxima feira, me compram uma passagem pela Lufthansa novamente e eu, obviamente, nem olho os tempos de conexão. Grande erro, mas acho que dessa vez aprendi a lição! A viagem foi a mesma da outra vez e, como da outra vez, eu estava em Paris, minha mala em Frankfurt.

Dessa vez disseram que me entregariam a mala no apê, na mesma noite. E que me ligariam para avisar o horário. Ok, bom motivo para comprarmos os melhores queijos franceses, alguns presuntos e, é claro, muitos vinhos. Tudo para esperar a mala!

Triste ficar sem mala, viu? Pobre de quem teve suas coisas extraviadas de verdade. O simples fato de eu querer tomar banho e não ter nem uma calcinha limpa pra por… aaaahhh, fala sério. Só com muito vinho mesmo pra não perder o bom humor. E o desodorante? O sabonete? O xampu? Sorte que a Cris tinha tudo isso pra me emprestar. E antes que falem, sim, eu sei que eu deveria ter pelo menos uma muda de roupa na mala de mão. Mas eu não tinha. Ponto!

Antes tarde do que mais tarde! A mala chegou a meia noite, muitos queijos e três garrafas de vinho depois. Mas tudo bem, pelo menos chegou. E no mesmo dia! E agora eu aprendi: nada de corrida em aeroporto, nada de conexão curta, nada de Beta pra um lado e mala pro outro. Onde uma for, a outra vai atrás.

Mochilão – o dia em que esvaziamos as carteiras

Era novembro de 2005 quando eu e a Mônica começamos a conversar sobre uma viagem à Europa. Ela estava nos Estados Unidos, eu estava em São Leopoldo. Ela tinha uma grana sobrando. Eu tinha uma grana sobrando. Enfim decidimos: faríamos um mochilão!

Começamos a elaborar o roteiro, que entre um zilhão de idas e vindas, ele foi concluído abrangendo 29 cidades e 14 países… EM DOIS MESES! Sim, esse era o roteiro enxuto no qual tínhamos conseguido chegar. Afinal de contas, temos que pensar grande, não é mesmo? Único problema: impossível nosso dinheiro dar conta de tudo isso!Pesquisa vai, pesquisa vem, descobrimos as companhias aéreas de baixo custo. Ryan Air e Easy Jet pareciam a descoberta da década! Fica a dica pra quem quer viajar baratinho pela Europa. Comprando com antecedência, os bilhetes custam centavos, mas claro, é preciso pagar uma taxa pra cada um dos processos (check in, despachar bagagem, embarque, comida, etc). Sei que, com todas as taxas, pagamos um máximo de 20 euros por trecho.

Esse tipo de companhia aérea tem apenas um ponto negativo: normalmente utilizam aeroportos bem distantes da cidade e, consequentemente, não os mais conhecidos pelas companhias aéreas “normais”. Nós não sabíamos disso! Pelo menos não até usar a Ryn Air pela primeira vez.

Saímos de Atenas com destino à Irlanda, mas faríamos escala em Milão e conexão em Bruxelas. O avião Alitália atrasou duas vezes, mas ainda assim, chegamos no aeroporto em tempo de procurar calmamente o guichê da Ryan Air para nossa primeira experiência em companhias de baixo custo.

Andamos o aeroporto de Bruxelas de cabo a rabo e nada. Até que decidimos perguntar no balcão de informações. Foi para nossa imensa alegria, que a moça explicou que a Ryan Air voava de outro aeroporto, a uns 70km dali.

DESESPERO… Fomos, então, de trem até a estação sul e lá descobrimos que havia um ônibus que fazia o trajeto entre os dois aeroportos. Bom, bonito e barato! Era o que precisávamos. Acontece que o motorista do ônibus já chegou avisando que nosso vôo já era. Nossa única chance seria pegar um táxi, mas que mesmo assim seria muito difícil chegarmos em tempo. Cálculo mental rápido: 70km igual a uma hora com um taxista Ayrton Senna. Era nossa única chance!

Paramos um taxi e lá fomos nós. Pressão no coitado do taxista que repetia constantemente que poderia perder a licença por nossa causa. Mas quem se importa com a licença do taxista quando se está prestes a perder o vôo para a Irlanda? “Pisa fundo aí, tio!”

Enfim, chegamos no tal do aeroporto. Tínhamos 20 minutos ainda antes do vôo sair, mas não teve chororô… O check in já havia fechado. Resultado: perdemos um vôo que nem tinha saido do aeroporto ainda, tivemos que pagar 130 euros pro taxista, comprar outro vôo, dessa vez de 60 euros e ainda ficar em um hotel, porque a porcaria do aeroporto da periferia nao funcionava 24 horas e assistir nosso avião decolando rumo a Dublin.

Bom, daí o hotel seria mais 50 euros e o táxi pra ir pro hotel, que descobrimos ficar há 3 km de distância, mais 15 euros. Merda de taxista, merda de empresa aérea, e merda que teríamos que caminhar 3km com nossas pesadas mochilas.

Mochila nas costas, mochila na frente, mochilas por todos os lados e lá fomos nós de novo, caminhando em direção ao hotel. No meio do caminho a Mônica, irritada, começou a pedir carona e, por sorte, logo em seguida parou um cara que nos levou até nosso destino.

Acabamos a noite comendo pizza e tomando cerveja, afinal de contas, o que é um peido pra quem tá cagado?

Meus destinos

Assim como eu disse que alguns livros pulam das prateleiras das livrarias diretamente no meu colo, quando penso em férias, alguns destinos, saltam do mapa e aterrissam diretamente na minha vontade. E lá eles ficam, até que eu resolva ir ou até que apareça uma oportunidade de eu conhecer o lugar.

O primeiro evento que eu ajudei a organizar quando entrei na Abicalçados foi um Brazil Fashion Now. Era um evento de moda que estava previsto para acontecer em Tóquio, no Japão. UAU, Japão! Sempre quis conhecer o Japão. Quando morei no Canadá, fiz várias amizades de origem nipônica. Mas ele fica lá do outro lado do globo!!! Não fui nesse evento, mas passaram-se apenas três anos para que surgisse outra oportunidade. E lá estava eu, do outro lado do planeta!

Daí quando estava em Hong Kong e tava rolando um campeonato de rugby, descobri que o time de Samoa fazia uma dança de guerra, típica do país, em cada início de partida. Logo fui procurar a tal dança no youtube e o resultado é que agora eu… PRE-CI-SO ir pra Samoa. Gamei na dancinha!

Aí a Iza falou, falou, falou da Turquia. Que lá é lindo, e praia, e muita riqueza, e muitas festas. Óbvio que agora quero muito ir pra Turquia, né? Aí achamos que estaria muito frio pra ir pra lá agora em outubro, então começamos a pesquisar outros destinos até que um deles deu aquele salto do mapa: Chipre.

O problema é que agora eu preciso ir pro Chipre antes de todos os outros lugares e já vi que nesse ano não vai dar. Começa a bater um desespero. E parece que tudo o que aparece é relacionado com o país! Mas tudo bem, sei que ainda tenho bastante tempo pra dominar o mundo e que tudo acontece na hora em que deve acontecer.

Vai que logo, logo o Brasil descubra no Chipre um potencial mercado importador de calçados brasileiros?
Quem duvida é louco!

Enfim, vejo!

Foram 14 dias desde a saída do Brasil, até a chegada, agora há pouco. Dois dias para ir, dois dias para voltar e dez dias de trabalho intenso sem direito a descanso. Ok, tivemos um dia de turismo mas, nesse dia, não descansamos. Com foco na Ásia, fizemos apenas uma parada em Johanesburgo, aproveitando as oito horas que teríamos de conexão para fazer um mini safári, cujas fotos já postei.

Fazia um tempo que eu queria ler Saramago. Ainda não havia lido nada dele e isso me frustrava. Juntando o útil ao agradável, mais o empréstimo do Diego que, de uma só vez me trouxe três livros do autor, abracei Ensaio Sobre a Cegueira, olhei bem para capa e coloquei na mala de mão. Ele seria minha companhia durante os intermináveis trechos dentro do avião. Mais tarde eu constataria que não poderia ter escolhido uma história mais apropriada.

Porto Alegre – São Paulo, São Paulo – Johanesburgo, Johanesburgo – Hong Kong e lá estávamos nós. Um grupo de dez pessoas, sete homens, três mulheres, sendo bem recebidos na cosmopolita Hong Kong. O lugar é totalmente internacional. Fora alguns perrengues com taxistas, a maioria da população fala inglês, ao menos para ajudar no que for preciso. Do alto de um dos tantos arranha céus que existem por lá, podemos ver o porto, um dos mais movimentados do mundo, as luzes que decoram os prédios mais altos e, é claro, a variedade incrível das mais famosas marcas internacionais: Louis Vuitton (a preferida), Gucci, Giogio Armani, Miu Miu, Chanel. É coisa pra gente grande.

No livro, as pessoas vão ficando cegas, umas após a outras, numa espécie de epidemia de cegueira. Tentam adaptar-se como podem a nova vida, e as lembranças ainda muito recentes, permitem que tenham uma certa noção de espaço. É o início de uma cegueira que virá a ensinar sobre o que não vemos, e sobre o que não queremos ver. Hong Kong é a visão perfeita, sem lesões, miopias ou cataratas. A curiosidade sobre a China só aumenta.

Já havia estado em Hong Kong por três vezes, essa era a quarta, mas a China Mainland, como eles dizem, ainda era completamente desconhecida aos meus olhos. Hong Kong é considerado parte da China, mas ainda assim, tratado como um país independente. Entre Hong Kong e outras cidades, é preciso fazer controle de passaporte. Aliás, em Hong Kong não precisamos de visto, nas outras cidades, sim.

E é chegado o dia de irmos a Pequim. Quase um grupo de excursão atrás da bandeirinha da guia de turismo. A diferença é que o grupo não seguia nenhuma bandeirinha, seguia o Cícero, que com toda a sua experiência de Ásia, se encarregava de pegar os passaportes de todos, cada um com seu cartão Star Alliance Gold (uns atuais, uns sem selos, uns vencidos, uns mentirosos) e negociar para que ninguém pague excesso de peso de nenhuma das trocentas malas, entre roupas e amostras, que tínhamos conosco. E lá íamos nós, em comboio em direção a aeronave da Air China.

http://www.youtube.com/watch?v=Zz3t3j1uNEY

Na história de Saramago, personagens sem nome, são levados a um prédio onde antes fora um manicômio, como quarentena, caso a cegueira seja mesmo contagiosa. Lá eles são guiados, sem saber, por uma mulher que parece imune a epidemia. Só o marido cego dela sabe que ela vê, e os cegos são facilmente enganados por ela que, para a sorte de todos, procura apenas ajudar.

Pequim é a capital do país, foi sede de Olimpíadas, deve ser uma cidade bastante preparada e internacional, certo? Errado! Bom, pelo menos em termos. A cidade até que é bonita. Plana. Mas bonita. É lá onde estão os principais pontos turísticos da China, a Grande Muralha e a Cidade Proibida. Tudo muito bonito, muito legal, mas o povo… ah, esse é um caso a parte. Mal educados, grosseiros, escarram e cospem em qualquer lugar, arrotam e peidam como se dissessem bom dia. Isso sem falar no empurra, empurra. Parecem mesmo um bando de cegos caminhando sem destino, mas querendo passar na frente uns dos outros. Para completar, descubro que o governo chinês bloqueia o Facebook, o Twitter e, pasmem, o Blogspot.

O governo chinês é cego ao censurar informações. É cego ao não permitir que seu povo pense, que tire suas próprias conclusões. É cego ao abrir a economia do país e não permitir que sua população entenda o ocidente. É cego e faz o povo cego, servil, submisso. Não é a toa que os cargos de diretoria na China são normalmente ocupados por estrangeiros. É a cegueira daquele que não quer ver. Qual será o pior tipo?

No manicômio, os cegos começam a se organizar. Ainda é difícil a vida por lá, principalmente porque a mulher que vê precisa sempre fingir que não vê. Ainda assim, com uma estrutura organizada, as coisas vão melhorando.

Chegamos em Xangai, a cidade mais industrializada da China. Pelos enormes prédios, podemos já perceber que o desenvolvimento está chegando primeiro por aqui. É em Xangai, nossa última parada,  que fica o prédio onde o Batman, o Cavaleiro das Trevas, se atira e pega um chinezinho e para dentro de um avião. Bom, pelo menos foi isso que o Rodrigo disse. Eu não vi o filme.

Enfim, Xangai é bem mais agradável. Ainda sinto uma sensação de que estou prestes a ter um ataque de pânico tamanha a multidão de pessoas em qualquer lugar que se vá. Pelo menos aqui eles parecem um pouco mais educados. É um tal de “How may I assist you?” pra cá e “Good morning Miss Ramos”, pra lá. Aliás, dá pra se perder a conta de quantos “mornings” a gente fala só entre sair do quarto e sentar em uma mesa para o café da manhã. É a organização que deixa tudo assim, mais calmo, apesar da quantidade de pessoas.

Xangai – Hong Kong, Hong Kong – Johanesburgo, Johanesburgo – São Paulo, São Paulo – Porto Alegre e eu finalmente chego em casa. É a mesma sensação que teve o primeiro cego, quando no final do livro ele pisca os olhos e diz: Vejo! Não sei como é possível, mas vejo!

Voltei a ver! Voltei a poder ver! Estou em casa!

Voltando pra casa

Depois do susto inicial por não conseguir acessar o Twitter, o Facebook e nem mesmo o MEU BLOG enquanto estive na China, conclui que o ideal seria fazer um texto bacana contando um pouco de tudo sobre a viagem, ao invés de escrever um texto por dia. Isso ficaria muito ultrapassado.

Foi muito triste, de qualquer forma, ficar esse tempo todo sem contar minhas histórias e sem receber os comentários que eu tanto aprecio. Obrigada aos que, mesmo após o aviso de utilidade pública, permaneceram entrando no blog todos os dias, na esperança de encontrarem um novo post por lá.

Agora estou em Johanesburgo, na África do Sul, onde tenho acesso livre a todo e qualquer site, sem nenhum tipo de restrição governamental. Entretanto, tenho muito pouco tempo entre tomar banho e tomar um café para escrever um texto à altura da expectativa de todos quanto retorno do blog. Por isso eu estou aqui dando um “oi, estou chegando”, para que todos saibam que o kitkatcomchampa está de volta, a todo vapor. São só mais dois vôos: Johanesburgo – São Paulo e São Paulo – Porto Alegre e eu chego em casa com toda a disposição para escrever sobre todas as experiências interessantes pelas quais passei nesses 15 dias entre três continentes.

Vai valer a pena. Pode apostar!