Braço em S, bugueiro desesperado, senta a Laira de um lado, o Marcelo capitão do outro e o Marcelo médico na frente. Todos me segurando. Eu segurando a mão. E lá vamos nós em direção ao posto médico de Jericoacoara. No meio do entrevero, ouvi o médico dizendo que havia uma ambulância lá. Já era um começo.
Entro posto a dentro e constato que o único médico do local é o que veio junto comigo. E eu só queria dormir… e de preferência acordar só no outro dia. Mas enfim, nosso médico receitou qualquer coisa pra dor que, na terceira tentativa de encontrar uma veia, a enfermeira conseguiu injetar. Foi o mesmo que nada! Era hora de imobilizar o braço, mas, é claro, não tinha gesso no posto.
Pobre Marcelo médico, tentando me ajudar da melhor forma, acabou fazendo uma espécie de tala com um papelão que encontrou por lá. Enquanto isso, meus amigos constatavam que não tinha nenhuma ambulância e tentavam um carro para me levar a Jijoca, onde tinha um hospital.
De tala de papelão, entrei numa caminhonete que a Associação dos bugueiros mandou pra me levar para a cidade. Foram comigo a Vani, o Marcelo médico e a esposa dele, Ana Carolina. Sobe e desce duna e, em meia hora, chegamos ao hospital de Jijoca. Dava medo só de olhar! Mas entrei…
Pedi, implorei, supliquei por um remédio, mas o doutor achou melhor não me dar nada e eu aguentei no osso. Literalmente. Tive ainda que esperar uns 20 minutos até o técnico do raio x chegar do banco. Quando ele chegou, desejei que ele tivesse ficado por lá mesmo. Achei que morreria fazendo aquele raio x, virando meu braço, sem medicação.
Raio x feito, constataram uma fratura cirúrgica e a recomendação era de que eu voltasse a Fortaleza. Pra isso o médico resolveu imobilizar meu braço com uma tala de verdade. Bom, tala de verdade pra ele, né? O pessoal precisava voltar a Jeri para pegar minhas coisas e o motorista da caminhonete ofereceu a casa da mãe dele para que eu não precisasse voltar no sobe e desce. Aceitei.
Cheguei na casa da mãe do moço. Aquelas típicas famílias nordestinas, com um milhão de pessoas passando pela casa. E umas crianças pançudinhas correndo e gritando: “mãe, mãe, vem vê a mulé doente!” Tá bom! Eu mereço! Pra melhorar, me serviram o almoço. Deixaram sobre a mesa arroz, feijão, farofa, um bife, GARFO E FACA! Respirei fundo e agredeci, comendo, é claro, apenas arroz, feijão e farofa!
Um tempão depois chegou outra caminhonete, dessa vez com o Marcelo capitão, a Vani e nossas coisas. E rumamos a Fortaleza! Quatro horas de viagem, eu já mais tranquila, avisando os familiares sobre o ocorrido e finalmente chegamos na casa da mãe da Tatá. O Pipou, pai, também é médico e com ele fomos para o hospital da Unimed.
Dessa vez recebi a prescrição de um medicamento que deveria ser injetado ali mesmo. Claro que também não acharam a tal da veia e meu braço começou a arder e a inchar (o outro braço, no caso!). Desisti do remédio e fui pra casa, com cirurgia marcada para o outro dia. Parecia que seria fácil.
Chego no hospital cedinho e descubro que preciso ir em um outro endereço solicitar autorização da minha Unimed, que é Vale do Sinos, para que eu faça a cirurgia em Fortaleza. Lá vou eu, de braço quebrado, pegar táxi até o outro endereço. Chego lá e descubro que o prazo para a autorização é de quatro dias. Sério, que espécie de emergência é essa?
Decido voltar pra casa. Ligo pra Tam e remarco as passagens minha e da Vani. O Véio e a mãe entram em ação, buscando os melhores médicos e a melhor forma de eu encaminhar a situação em Porto Alegre. Chegamos a meia noite de quinta para sexta e vamos direto para a emergência do hospital Mãe de Deus onde, finalmente sou bem atendida, por um médico especialista em mãos. A tala é refeita e finalmente meu braço é imobilizado de forma decente.
Marcamos de fazer a cirurgia, sempre achando que a Unimed autorizaria imediatamente. Achei que estaria tudo resolvido mas me enganei. Hoje é terça-feira, seis dias da fratura, e ainda não consegui operar. Minha esperança é de conseguir fazer isso hoje. Valeu Unimed por uma semana de braço imobilizado sem que ele esteja ao menos sendo curado. Plano de saúde é muito bom quando a gente não precisa dele.