Capítulo 27
Encontrei com Heidi na cozinha, que me disse que havia ficado preocupada comigo. Engraçado que na noite anterior eu pensei sobre o quão importante havia sido eu ter pedido ajuda quando precisei e, considerando essa hipótese, pensei que seria à ela que eu recorreria. Muito simpática, me explicou que estava acontecendo uma greve na cidade e que eu deveria me informar sobre como eu deveria fazer para ir ao aeroporto.
Ficamos mais de hora conversando, enquanto ela tomava seu café da manhã. Eu, no auge do enjôo da noite anterior, havia prometido à Noya Rao que faria jejum até as 18h, então estava só no chá de coca. Heidi me contou que ama o Brasil. Falou sobre Alto Paraíso de Goiás, que era um lugar que apresentou uma luz diferente em fotografias feitas pela NASA e é também onde existem bruxas muito sábias. Nada daquilo fazia sentido para mim, mas eu tava curtindo o papo e botando pilha para que me contasse mais.
Começamos a falar de cura e de neurociência. Ela me recomendou pesquisar sobre Joe Dispenza, um neurocientista que fala sobre o despertar de uma nova consciência e que, inclusive, estaria no Brasil em agosto. Ela também me contou que havia ido conhecer “John of God” e do quanto se surpreendeu com os crimes que João de Deus havia cometido. Por fim, insistiu muito para que eu experimentasse São Pedro, o tal cacto que, assim como a Ayahuasca, é conhecido como uma planta medicinal.
Ainda encontrei com Ingrid, a quem pude abraçar e agradecer pelo carinho e hospitalidade antes de sair para mais uma caminhada. Eu precisava matar um tempo até meu vôo, então fui atrás de um Centro Comercial Artesanal que havia visto na volta da Montanha Colorida. As pernas continuavam doendo muito, mas teria alguns vôos pela frente e entendia que a caminhadinha poderia me fazer bem.
Em função da greve, muitas lojas estava fechadas, então acabei comprando algumas coisas pelo Centro mesmo. Ainda assim, foram mais de 6km pela cidade. A passos bem pequenos e na velocidade lesma cansada, mas fui. Pequei um Uber para o aeroporto e consegui antecipar meu vôo de Cusco para Lima. Sabia que em Lima haveria um lounge da One World onde eu poderia me abancar antes do vôo.
A despedida mais incrível que eu poderia pedir me foi oferecida pela paisagem vista durante todo o trecho. A magnanimidade dos Andes e os cumes despontando acima das nuvens criavam imagens que dificilmente irei esquecer. Sorri, enquanto agradecia por essas férias tão leve quanto intensa, tão dolorida quanto feliz, tão despretenciosa quanto enriquecedora. Aquela pontinha da montanha era eu, minha vida, se negando a ficar no mundo dos homens, e buscando meu lugar em dimensões que poucos acessam. A montanha era eu na força da sua estrutura, com os pés firmes no chão, mas com os sonhos bem altos, sem limites. Era hora de testar as asas e ver até onde meu vôo me levaria.