Machu Picchu

Capítulo 24

Era chegado o grande dia. Era 5h15 quando cheguei na fila do ônibus que me levaria à Machu Picchu. Tive que aguardar até às 6h30 para embarcar, mas ao menos eu estava na primeira saída do horário das 7 horas, o que me permitiu sentir Machu Picchu só para mim. Quem não quisesse pagar a subida de ônibus poderia fazer a trilha morro acima e, enquanto subíamos, avistávamos alguns corajosos. A subida é forte, íngreme e longa. Os que optam por esse trajeto certamente chegam bem cansados lá em cima.

Por fim, entrei. É inexplicável a sensação de entrar numa cidade considerada sagrada. Toda sua história, toda sua arquitetura, toda a sua beleza… tudo o que aquele lugar representa faz todos os pelinhos do corpo se arrepiarem. E para que a coisa fique ainda mais impactante, a construção fica entre montanhas majestosas e de uma natureza incríveis. É realmente de tirar o fôlego.

Resolvi não contratar guia. Queria caminhar pelas ruínas ao meu tempo, tentando entender por mim mesma o que cada cantinho teria a me dizer. A história eu já conhecia, eu queria mesmo era sentir. E assim eu fui…

A caminhada não é fácil. São muitos sobes e desces em degraus altos e desnivelados. Ainda que o local ficasse mais baixo que Cusco e, assim, facilitasse um pouco a respiração, é preciso um bom preparo físico para encarar cada subida. Para quem tem pernas curtas, então, é certeza de dor no dia seguinte. Mas com ou sem dor, fui andando e absorvendo toda aquela beleza enquanto admirava as construções e a grandiosidade de tudo aquilo.

Não achei que tivesse muito turista, ao menos não naquele horário, ou não seguindo meus passos não convencionais para quem visita o sítio arqueológico. Assim, fiz belas fotos e parei em cada lugarzinho que tinha algo a me dizer e contemplei a paisagem. Ainda antes de sair, encontrei um cantinho meio afastado, onde pegava um raio de sol. Sentei ali e meditei, com o intuito de captar um pouco daquela energia, mas também de dedicar minha atenção plena como forma de agradecimento pela experiência que eu estava vivendo.

Quando saí do parque, percebi que havia passado duas horas por ali. Olhei para a placa informando sobre a trilha e decidi que desceria a pé. Descendo logo nos primeiros degraus, encontrei um casal subindo. Perguntei se a trilha valia a pena. “Sim. Não é muito difícil. Se vai devagar, descansando no caminho, é tranquilo”, disse o moço, num vermelhão. Falei que tinha dúvidas em função das minhas pernas curtas, mas a moça me encorajou, mostrando que ela sofria do mesmo problema e havia chegado até ali. “É uma descida, afinal de contas, não tem como dar errado!”, pensei eu enquanto colocava algumas músicas de meditação e mantras que eu havia baixado na noite anterior.

O grande problema de se optar pela trilha, é que não tem volta. Não dá pra parar um ônibus no meio do caminho, nem para cima, nem para baixo. E posso dizer que já na metade da trilha eu percebi meu erro. De fato, os degraus era muito altos e logo minhas pernas começaram a sofrer. O tornozelo sentia o primeiro impacto, que passava pela canela, panturrilha e joelhos, mas acho que o pior ainda era nas coxas. Eram elas que seguravam o corpinho até que o pé da frente alcançasse o chão.

Parei algumas vezes no caminho para descansar, mas nada impediu a tremedeira que deu quando finalmente cheguei na ponte por cima do rio das Águas Calientes. Logo ali era a guarita de controle para subida ao Parque. Me sentei por ali mesmo e fiquei, com a esperança de que em breve recuperaria meus movimentos para seguir a rota, agora no plano (ao menos era assim que eu lembrava).

Quando decidi seguir, percebi que havia cometido um grande erro e que essa visita à Machu Picchu seria lembrada e sentida no corpo por alguns dias. A parte plana não era nada plana. E também não era nada curta. Algo perto de 3km, morro acima, me arrastando conforme dava. E minha pousada ficava no topo do morro, lá em cima. Quase a última. Resolvi parar no meio do caminho e almoçar. Eram 11 horas. Eu estava caminhando há duas, acordada há mais de seis. Achei que fazia sentido.

Já no trem, de volta à Cusco, voltei a sentir a euforia que havia sentido na ida. E ela só aumentou quando entrei no ônibus em Ollantaytambo. Sentia como se já tivesse vivido aquele dia de alguma forma, em alguma vida, dimensão, espaço e tempo.

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