Suspiro

Fui pesquisar sobre a origem da palavra escrever. Gosto de estudar sobre isso. Muitas vezes não nos damos conta do quanto a própria representação gráfica diz sobre o seu significado. Pois bem, escrever vem de “marcar com estilo”. Talvez venha daí o motivo de, em algumas línguas de origem latina, caneta se chamar estilo (ou derivados). Mas pouco sei eu sobre essas coisas. É só mais uma vez o meu olhar curioso de jornalista carregando meu foco para aquilo que não está na pauta.

Às vezes isso me incomoda um pouco, mas também já aprendi que isso faz parte do meu processo. A mensagem chega, preciso seguir sua orientação. Por vezes, o que ela traz é um texto pronto. Ou um poema. Por outras, é uma ideia. Ou um início. E dessa mistura entre magia e trabalho braçal, sai o meu escrever. O meu estilo marcado.

Esse final de semana li A Hora da Estrela. Um livro da Clarice Linspector. O último que ela escreveu. Eu já havia lido esse livro antes, mas não lembrava dele e, como obra do acaso, o título apareceu na minha cabeça para nunca mais sair. Comprei um exemplar para chamar de meu. Como disse, aprendi a aceitar essa conexão com o divino (seja ele o que for).

O livro desafia a realidade escancarando a realidade. Mas como? Impossível explicar! Uma mistura de verdade que insistimos em jogar para baixo do tapete, com uma chuva de pensamentos desconexos – ainda que cheios de nexo – que surgem justamente no escrever. A protagonista tá ali, atrapalhando a vida do autor (sim, ela mesma se retira desse papel nesse livro). Ela precisa nascer, precisa ganhar vida. E enquanto isso não acontecer. Pode esquecer da vida. Do foco. De qualquer tentativa de produtividade.

Longe de mim querer me comparar com a Clari. Mas como me conectei a esse processo! Talvez tenha sido por isso que o universo tenha insistido comigo para que eu relesse a obra. Para que eu entendesse que somos todos canal. Para alguns, a mensagem se manifesta em texto, para outros, talvez em bolo de fubá. Vai saber…

O importante é estar atento. “A sobrevivência depende da sanidade, e a sanidade consiste em prestar atenção. A qualidade da vida é sempre proporcional à sua capacidade para o deleite. A capacidade de se deleitar é o dom de prestar atenção.” Eu sei, você deve estar pensando que essa frase é da Clari. Mas não é. É da Julia Cameron, mais uma das autoras que tem dividido a mesa comigo nas últimas semanas. Como é bom ler mulheres. São geniais!

Mas não vou terminar esse texto com frase da Julia, sendo que foi a Clari que o inspirou. Ao invés disso, vou conectá-las. Afinal, gerar conexões é um dos grandes prazeres da vida. Ao menos da minha. Vou então dizer que prestar atenção gera curiosidade. Gera perguntas. E…

“Enquanto tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo.”

Termino aqui, com um suspiro. Apenas.

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