Passei alguns minutos olhando para a tela em branco, pensando em como começar esse texto. Ou mesmo se deveria ser um texto. Mas acho que a importância desse comunicado merece uma explicação, até como forma de honrar e agradecer os 12 anos de uma jornada incrível que se encerra, ainda que parcialmente.
Depois de muita terapia, meditação, cursos e uma viagem focada em reorganizar as prioridades na minha vida, entendi que precisava ressignificar minha relação com o trabalho. E para isso, era necessária uma ruptura.
A decisão de sair da Abicalçados não foi nada fácil. Tenho muito carinho por essa organização e pelas pessoas que a formam. Tive nela um terreno fértil para meu crescimento e desenvolvimento como pessoa e como profissional. Aprendi sobre o mundo, fiz amigos incríveis, vivi momentos inesquecíveis e experiências desafiadoras. Muito mais do que aquela adolescente, estudante de jornalismo, aspirava para sua carreira.
Na Abicalçados tive um grande mentor, que me deu autonomia e confiança. Também trabalhei ao lado de profissionais atentxs, comprometidxs, inspiradorxs e amorosxs. Tive a honra de liderar e ser liderada (dependeu do projeto) por pessoas espetaculares. Tive oportunidade de intraempreender por mais de uma vez, desde iniciar o trabalho de redes sociais (sim, sou da época em que elas ainda não existiam), até ajudar na criação de um programa voltado para o futuro do setor. Pude aplicar tudo (ou quase!) o que busquei aprender ao longo desse tempo.
Nos últimos anos, novas oportunidades se abriram pra mim. Em família, abrimos a Óca Coworking, um empreendimento inovador para a cidade de São Leopoldo e que desde o início, cinco anos atrás, nos enche de orgulho. Há dois, aceitei o convite para me associar a WTF! School, essa escola que ensina para a vida de uma forma tão gostosa que a gente nem acha que tá estudando. São dois negócios que mexem comigo, com meu propósito de vida e com o que eu espero entregar para o mundo.
Aos pouquinhos, minha vida virou trabalho. Parava tudo para responder alguma dúvida, entregar alguma solicitação ou atender algum pedido. Rolava até uma sensação de culpa quando eu decidia que naquele final de semana eu só queria sofá, vinho e Netflix. Mas nada disso foi ruim ou sofrido, foi apenas parte de um processo. Um parte que já está em transformação.
Se você leu até aqui e agora se pergunta qual será meu foco a partir de agora, respondo: meu foco será em mim. Isso não significa que vou jogar tudo pro alto, pelo contrário. Seguirei trabalhando com a Abicalçados (de forma mais pontual e bem menos intensa), na Óca e na WTF!, mas acima tudo, estou comprometida a seguir com a prática de olhar para dentro, ouvir minha própria consciência e respeitar meus limites. Ainda estou aprendendo, por isso conto com essa rede de pessoas incríveis para que continuem ao meu lado – ainda que me seja doído pedir ajuda -, me mostrando caminhos e dando ocasionais, mas necessários, puxões de orelha.
A mudança está chegando de mansinho, sem data marcada. Eu, sempre tão segura de mim, agora olho para um desconhecido que me encanta muito mais do que assusta. Hora de praticar o que eu prego. Hora de pôr em prática o que aprendi nesses últimos anos de resgate do que significa ser. Hora de abraçar o não saber.
“so try your wing, find out if you can fly”