Na ilha da magia

“Aqui não tem criminalidade. Roubo, violência, vocês não precisam se preocupar com isso”. Essas foram as primeiras palavras do guia logo que chegamos a tão famosa ilha de Fernando de Noronha. Falam isso porque hoje em dia já não há maior privilégio do que esse. Belezas naturais? Tem também! Mas também tem em outros lugares. Agora, viver em comunidade, cada um respeitando o espaço – e as coisas – do outro, ah, isso é só em Noronha, mesmo.

Trânsito? “De vez em quando acontecem uns acidentes. Tartaruga bate em tubarão, arraia se desentende com polvo…” Que realidade é essa? Aos poucos fica fácil perceber que ela é o reflexo da natureza, que educou um povo sem refinamento, mas com respeito e preocupação pelo meio que lhes dá o necessário para viver. Mesmo que pelo turismo.

Assim de cara, o Noronhense pode não parecer muito simpático. Mas é só essa primeira impressão. A verdade é que são bem prestativos e adoram contar histórias. Só que estão tão acostumados com turistas o ano inteiro que não se preocupam em estender tapete vermelho. E nem precisa!

Noronha é uma aula de civilização. Nos quatro dias que passei na ilha, vi locais (ou “estrangeiros” que vivem por lá) recolhendo lixo que o vento carrega para o mar. Um deles chegou a parar o barco para juntar da imensidão azul, um saco de salgadinho que destoava da paisagem. Só na ilha, pude ver um tubarão do meu tamanho nadar tranquilamente por baixo de mim e ter a certeza de que ele prefere o buffet de frutos do mar que se oferece bem na sua frente, do que uma perna minha, torrada pelo sol. Como culpá-lo?

Não é bem um destino de lua de mel, como muitos imaginam. Aliás, as atividades são tantas e tão intensas, que seria difícil ainda ter energia para consumar casamento na volta para a pousada. Noronha é um destino de aventura: snorkel, mergulho com cilindro, prancha VIP, caminhadas, pontos de observação. Tudo exige muita coxa morro acima, panturrilha batendo o pé de pato e fôlego, para concluir as atividades inteiro e para absorver toda a diversidade de animais e de cores e ouvir todas as histórias da ilha.

É tudo muito simples, sem luxo. Internet? Forget about it! E é tudo caro. Mas vale cada centavo. Minha recomendação? O fundo do mar. Murchei de tanto querer nadar atrás de todas as possibilidades de animais que poderia descobrir por lá. Além do tubarão – ponto alto da aventura -, vi arraia, tartarugas gigantes, peixes de todas as cores e combinações – até um que parecia de oncinha. Percebi também que eles não se preocupavam com a quantidade de máscaras os observando. É como se soubessem o quanto valem. Como se soubessem que não existe melhor lar. Alguns pareciam se exibir, numa dança que exaltava ainda mais sua beleza.

E por falar em se exibir, que emoção a parte ver o show dos golfinhos rotadores. Para se comunicarem entre si, eles chegam a girar sete vezes antes de cair da água. E andam em bandos. Bandos de muitos golfinhos!! Nunca havia visto algo igual. Vários seguem os barcos por bastante tempo, como que nos escoltando em nossa saída, e foi ainda mais emocionante saber o real motivo: os machos vem para a superfície para despistar, enquanto fêmeas e filhotes fogem para um local mais seguro. Os homens deviam aprender com os golfinhos…

Que esse santuário possa manter-se preservado, e que essa vida marinha se sinta para sempre segura, para que nós humanos “civilizados” possamos viver ao menos uma vez a experiência de coexistir com respeito e admiração.

Algumas observações:

  • Os Noronhenses insistem que os tubarões da ilha são vegetarianos. Os interesse deles se resume a batata da perna, maçã do rosto, flora intestinal e raiz do cabelo.
  • Resultado de quatro dias de snorkel é bumbum napolitano. Além do creme e do chocolate, ficou uma faixa vermelha no meio.
  • Em Noronha não existe por do sol nublado. Lá acontece eclipse nuvial.
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One Thought on “Na ilha da magia

  1. Nelva C.M. Dias on 16 de fevereiro de 2015 at 19:44 said:

    Show Beta!
    Incrível tua descrição! Me senti na ilha!
    E que este paraíso seja realmente preservado!
    Beijo

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