Daily Archives: 8 de julho de 2011

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A saga do visto americano

A aventura toda começou quando o Rogério, o agente de viagem, me disse que não havia mais horários para entrevista de visto americano antes da data da minha viagem. Pânico total! Seria minha primeira viagem de trabalho aos Estados Unidos e eu não estava disposta a deixar essa oportunidade passar.
“Recife!”, ele disse. “Tem horário em Recife! Topas?”. E lá estava eu, entre todos os documentos que são solicitados, mais fotografia, mais comprovantes disso e cartas daquilo, com a opção de passagem para avaliar. Como já fiz algumas vezes, não dei muita bola e aprovei o itinerário. Claro que, todas as vezes em que neglicenciei essa etapa da viagem, mofei horas em aeroportos graças a conexões estapafúrdias.
Mesmo assim, ainda não havia aprendido a lição.
A ida contava com uma parada em São Paulo. O que eu não esperava é que essa parada seria de quatro horas!!! QUATRO! Para só então pegar o próximo vôo, Gol, rumo a meu destino final. Nos dois trechos, meu assento era na janela. Claro, na Gol eu não sou VIP como na TAM, e lá, eles ainda não descobriram que eu PRECISO sentar no corredor devido a minha necessidade que se manifesta com uma pontualidade quase britânica, de fazer xixi de cinco em cinco minutos.
Tudo bem! Me concentrei e fui, torcendo para chegar logo no hotel para pedir algo para comer que fosse diferente de amendoim e barrinha de cereal. Uma rápida olhada no Google Maps e logo fico sabendo que o hotel fica a apenas cinco minutos do aeroporto. Melhor não avisar o taxista sobre esse detalhe antes de entrar no carro!
“Táxi?”, gritou um cara logo na saída do portão de desembarque. Fui com ele até o carro e, quando já havíamos começado a andar, larguei a bomba: “Nacional Inn, por favor, fica aqui pertinho!”. “Já sei onde é”, ele disse, “pode contar três minutos no relógio”. E nesse instante ele decidiu que a melhor forma de tratar uma fulaninha que tira ele da fila para uma corrida de três minutos, seria mata-lá durante o percurso. Ele não conseguiu, mas se esforçou bastante!!
Chego finalmente no hotel. Preencho a ficha. Vou logo avisando que quero um late check out para o dia seguinte. Quando termino de falar, o senhor calma e gaguejantemente diz: “Senhora, nós tivemos alguns problemas de infiltrações em alguns quartos, por isso estaremos lhe realocando em um outro hotel. O motorista irá lhe levar e, amanhã, a senhora nos liga que lhe buscaremos no hotel e lhe levaremos ao aeroporto.”
Great! A saga ainda não havia terminado. E lá fui eu, para o novo hotel. A boa noticia é que esse era de frente para o mar e que eu não gastaria com táxi. A má era que, obviamente, o room service já havia encerrado e não tinha nada para comer no quarto. “O frigobar do quarto está vazio. A senhora pode solicitar as bebidas aqui embaixo”, ele explicou! “Duas cervejas, por favor, e geladas!”. Quem não tem cão, caça com Skol.
 No outro dia acordo às seis da manhã para não correr o risco de chegar atrasada para a entrevista. Logo que toca o despertador, dou um salto da cama, achando que já era perto do meio dia e que eu havia perdido minha chance. Mas não, estava tudo certo! Incrível como o sol já está alto em Recife às seis da manhã. Tomo café da manhã, que no fim foi melhor do que o esperado e sigo, toda emperequetada, rumo ao Consulado americano.
Logo na chegada, recebo um número. Essa seria minha identifição até o veredito ser pronunciado em alto e bom som. 644! Menos mal que não era 666. E lá vou eu, junto com outros tantos ali transformados em gado marcado, passar pelas etapas todas até falar com a criatura que interessa de fato! Mostra comprovante de pagamento, escreve o tipo do visto, entrega formulário, põe as digitais numa maquinha e…
Finalmente, chega a hora fatídica.
Devo confessar que estava nervosa. Mesmo tendo tudo o que um requerente precisa, mais cartas, convites e um visto vencido, nunca é possível saber o que se passa na cabeça de um americano. Quando ele pronunciou meu nome, o nervosismo aumentou. A tentativa dele de falar o português criava quase que um novo idioma, macarrônico, beirando o ridículo, e tive que me controlar pra não rir.
Visto aprovado, saí do brete em busca de um táxi e, para minha sorte, encontrei um cujo motorista me explicou tudo sobre corrupção, super faturamento de obras, omissão dos vereadores e a forma de pensar da população nordestina. Era tudo o que eu queria, realmente. Mania que esse povo tem de falar. Era eu soltar um “tu” qualquer que já vem querendo saber de onde sou, quando cheguei, porque e para onde vou, se já vim outras vezes. Afe! Me deixem! “Desculpe senhora”, disse ele quando chegamos, “eu falo demais e sei que gaúcho não gosta muito de falar.” Mais essa agora!
Cheguei no hotel, fiz uma horinha e liguei pro pessoal do Nacional Inn. Queria que eles me levassem ao aeroporto. Era parte do pacote e eu não abriria mão desse beneficio. Pelo menos não depois de tudo o que passei. Vai que o próximo taxista quisese discutir a economia mundial ou pior, tentar me transformar em uma torcedora do Sport, do Náutico ou do Santa Cruz! Ah não! Paciência tem limite!