Monthly Archives: agosto 2010

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Improviso!

Não gosto de planos! Um pouco de planejamento é bom, mas bem pouquinho! Gosto do improviso, da excitação que ele provoca. Gosto de não ter certeza do que vai acontecer. Gosto daquele friozinho na barriga que o risco provoca. Não é bem de surpresas que eu gosto, mas do inesperado calculado. Entende?

Acho chato ter tudo muito organizado. Acho chato saber toda a história do lugar antes de conhecer. Acho muito chato saber em qual estação de metrô eu terei que descer. Acho chato não me perder em um lugar novo. Ou num velho conhecido. Acho chato saber o que me espera.

Minha irmã um dia me xingou porque eu não leio as placas. Dobro na rua que eu acho que é a certa e só depois vejo se acertei de fato ou não. Mas sou assim, mesmo. Não leio placas. Sigo minha intuição. Às vezes eu preciso dar uma volta na quadra, mas em muitas vezes ela me deixa na porta.

Chato, muito chato, aquele que é safe. Que graça tem ser safe? Se joga na vida, bee. Tá com medo de que?

O da hora!

Perdoem-me, mas terei que falar de livros novamente. Aliás, pelo que estou percebendo, ainda falarei muito sobre esse: Comer, rezar, amar! Mas isso é outra história, para outro post.

Costumo dizer que os livros falam comigo, principalmente quando chegou a hora certa de eu ler um ou outro. Funciona mais ou menos assim: eu chego na livraria, banca ou mesmo no sebo, e alguns títulos começam a pular das prateleiras diretamente nos meus braços. É sério! Díficil é sair de um lugar desses sem ter usado todo o crédito do cartão.

A primeira vez que percebi isso foi quando passei por um sebinho que tem na saída da estação de metrô aqui em São Leopoldo e lá da rua, enxerguei “Quando Nieztche Chorou”. Ele tava lá longe, na última prateleira, a uma distância em que, provavelmente ninguém conseguiria ler o título. Eu li! Sequer eu tinha entrado no lugar, mas quando chega a minha hora de ler uma história, ela sempre dá um jeito de se colocar disponível pra mim.

O livro da Elisabeth Gilbert, Comer, Rezar, Amar, pulou, sim, nos meus braços, numa banquinha de aeroporto. Ele estava bem ao lado da chinesinha que gritava “Do you wanna learn mandarim?” à todos que passavam. Era uma edição daquelas de viagem, folha reciclada, letras miúdas… mas enfim, havia chegado a hora. Comprei!

O livro é dividido em três partes: Itália, Índia e Indonésia. Estou ainda na primeira, mas já percebi que meus conceitos são muito parecidos com os da protagonista e isso está me deixando cada vez mais encantada com a história. É sempre assim, o livro certo, na hora certa. Ainda vou escrever bastante sobre esse.

No mais é curtir o do momento e esperar o próximo que vai gritar “olha eu aquiiiiiiii!”.

Enfim, vejo!

Foram 14 dias desde a saída do Brasil, até a chegada, agora há pouco. Dois dias para ir, dois dias para voltar e dez dias de trabalho intenso sem direito a descanso. Ok, tivemos um dia de turismo mas, nesse dia, não descansamos. Com foco na Ásia, fizemos apenas uma parada em Johanesburgo, aproveitando as oito horas que teríamos de conexão para fazer um mini safári, cujas fotos já postei.

Fazia um tempo que eu queria ler Saramago. Ainda não havia lido nada dele e isso me frustrava. Juntando o útil ao agradável, mais o empréstimo do Diego que, de uma só vez me trouxe três livros do autor, abracei Ensaio Sobre a Cegueira, olhei bem para capa e coloquei na mala de mão. Ele seria minha companhia durante os intermináveis trechos dentro do avião. Mais tarde eu constataria que não poderia ter escolhido uma história mais apropriada.

Porto Alegre – São Paulo, São Paulo – Johanesburgo, Johanesburgo – Hong Kong e lá estávamos nós. Um grupo de dez pessoas, sete homens, três mulheres, sendo bem recebidos na cosmopolita Hong Kong. O lugar é totalmente internacional. Fora alguns perrengues com taxistas, a maioria da população fala inglês, ao menos para ajudar no que for preciso. Do alto de um dos tantos arranha céus que existem por lá, podemos ver o porto, um dos mais movimentados do mundo, as luzes que decoram os prédios mais altos e, é claro, a variedade incrível das mais famosas marcas internacionais: Louis Vuitton (a preferida), Gucci, Giogio Armani, Miu Miu, Chanel. É coisa pra gente grande.

No livro, as pessoas vão ficando cegas, umas após a outras, numa espécie de epidemia de cegueira. Tentam adaptar-se como podem a nova vida, e as lembranças ainda muito recentes, permitem que tenham uma certa noção de espaço. É o início de uma cegueira que virá a ensinar sobre o que não vemos, e sobre o que não queremos ver. Hong Kong é a visão perfeita, sem lesões, miopias ou cataratas. A curiosidade sobre a China só aumenta.

Já havia estado em Hong Kong por três vezes, essa era a quarta, mas a China Mainland, como eles dizem, ainda era completamente desconhecida aos meus olhos. Hong Kong é considerado parte da China, mas ainda assim, tratado como um país independente. Entre Hong Kong e outras cidades, é preciso fazer controle de passaporte. Aliás, em Hong Kong não precisamos de visto, nas outras cidades, sim.

E é chegado o dia de irmos a Pequim. Quase um grupo de excursão atrás da bandeirinha da guia de turismo. A diferença é que o grupo não seguia nenhuma bandeirinha, seguia o Cícero, que com toda a sua experiência de Ásia, se encarregava de pegar os passaportes de todos, cada um com seu cartão Star Alliance Gold (uns atuais, uns sem selos, uns vencidos, uns mentirosos) e negociar para que ninguém pague excesso de peso de nenhuma das trocentas malas, entre roupas e amostras, que tínhamos conosco. E lá íamos nós, em comboio em direção a aeronave da Air China.

http://www.youtube.com/watch?v=Zz3t3j1uNEY

Na história de Saramago, personagens sem nome, são levados a um prédio onde antes fora um manicômio, como quarentena, caso a cegueira seja mesmo contagiosa. Lá eles são guiados, sem saber, por uma mulher que parece imune a epidemia. Só o marido cego dela sabe que ela vê, e os cegos são facilmente enganados por ela que, para a sorte de todos, procura apenas ajudar.

Pequim é a capital do país, foi sede de Olimpíadas, deve ser uma cidade bastante preparada e internacional, certo? Errado! Bom, pelo menos em termos. A cidade até que é bonita. Plana. Mas bonita. É lá onde estão os principais pontos turísticos da China, a Grande Muralha e a Cidade Proibida. Tudo muito bonito, muito legal, mas o povo… ah, esse é um caso a parte. Mal educados, grosseiros, escarram e cospem em qualquer lugar, arrotam e peidam como se dissessem bom dia. Isso sem falar no empurra, empurra. Parecem mesmo um bando de cegos caminhando sem destino, mas querendo passar na frente uns dos outros. Para completar, descubro que o governo chinês bloqueia o Facebook, o Twitter e, pasmem, o Blogspot.

O governo chinês é cego ao censurar informações. É cego ao não permitir que seu povo pense, que tire suas próprias conclusões. É cego ao abrir a economia do país e não permitir que sua população entenda o ocidente. É cego e faz o povo cego, servil, submisso. Não é a toa que os cargos de diretoria na China são normalmente ocupados por estrangeiros. É a cegueira daquele que não quer ver. Qual será o pior tipo?

No manicômio, os cegos começam a se organizar. Ainda é difícil a vida por lá, principalmente porque a mulher que vê precisa sempre fingir que não vê. Ainda assim, com uma estrutura organizada, as coisas vão melhorando.

Chegamos em Xangai, a cidade mais industrializada da China. Pelos enormes prédios, podemos já perceber que o desenvolvimento está chegando primeiro por aqui. É em Xangai, nossa última parada,  que fica o prédio onde o Batman, o Cavaleiro das Trevas, se atira e pega um chinezinho e para dentro de um avião. Bom, pelo menos foi isso que o Rodrigo disse. Eu não vi o filme.

Enfim, Xangai é bem mais agradável. Ainda sinto uma sensação de que estou prestes a ter um ataque de pânico tamanha a multidão de pessoas em qualquer lugar que se vá. Pelo menos aqui eles parecem um pouco mais educados. É um tal de “How may I assist you?” pra cá e “Good morning Miss Ramos”, pra lá. Aliás, dá pra se perder a conta de quantos “mornings” a gente fala só entre sair do quarto e sentar em uma mesa para o café da manhã. É a organização que deixa tudo assim, mais calmo, apesar da quantidade de pessoas.

Xangai – Hong Kong, Hong Kong – Johanesburgo, Johanesburgo – São Paulo, São Paulo – Porto Alegre e eu finalmente chego em casa. É a mesma sensação que teve o primeiro cego, quando no final do livro ele pisca os olhos e diz: Vejo! Não sei como é possível, mas vejo!

Voltei a ver! Voltei a poder ver! Estou em casa!

Voltando pra casa

Depois do susto inicial por não conseguir acessar o Twitter, o Facebook e nem mesmo o MEU BLOG enquanto estive na China, conclui que o ideal seria fazer um texto bacana contando um pouco de tudo sobre a viagem, ao invés de escrever um texto por dia. Isso ficaria muito ultrapassado.

Foi muito triste, de qualquer forma, ficar esse tempo todo sem contar minhas histórias e sem receber os comentários que eu tanto aprecio. Obrigada aos que, mesmo após o aviso de utilidade pública, permaneceram entrando no blog todos os dias, na esperança de encontrarem um novo post por lá.

Agora estou em Johanesburgo, na África do Sul, onde tenho acesso livre a todo e qualquer site, sem nenhum tipo de restrição governamental. Entretanto, tenho muito pouco tempo entre tomar banho e tomar um café para escrever um texto à altura da expectativa de todos quanto retorno do blog. Por isso eu estou aqui dando um “oi, estou chegando”, para que todos saibam que o kitkatcomchampa está de volta, a todo vapor. São só mais dois vôos: Johanesburgo – São Paulo e São Paulo – Porto Alegre e eu chego em casa com toda a disposição para escrever sobre todas as experiências interessantes pelas quais passei nesses 15 dias entre três continentes.

Vai valer a pena. Pode apostar!

AVISO DE UTILIDADE PÚBLICA:

Beta avisa que, devido as restrições chinesas à alguns sites, ela não está conseguindo atualizar o blog. Assim que voltar, ela compensa os dias de atraso!

Abç,

Vani Schuch, Publicitária, amiga e Assessora Direta de Assuntos Aleatórios da Blogueira.