Aí pra inauguração do apê, decidi que faria o escondidinho da Beta. Pra quem não frequenta botecos de São Paulo ou Minas Gerais, escondidinho é um prato com carne seca, purê de aipim e queijo. O detalhe é que tinha feito o escondidinho pra cinco pessoas uma vez, e tinha dado muito trabalho. Dessa vez, a lista de convidados totalizava 12 pessoas. “Seja o que Deus quiser”, pensei.
A janta seria na quinta, logo, quarta de noite decidi começar a cozinhar as coisas. Peguei todas as panelas que eu tinha e coloquei pra ferver a carne em uma (decidi fazer com carne normal mesmo!) e o aipim em outras três. Aquela coisa, eu, sozinha, dominando quatro panelas. Um espetáculo! O apartamento todo suado, escorrendo pelas paredes, com os vidros embaçados. “Preciso logo comprar o diabo da coifa!”, pensei.
Mas a pior parte ainda nem tinha chegado. Comecei a retirar o aipim das panelas e colocá-los em um pote para fazer o purê. Peguei meu super mixer multiuso igual Bombril e… nada. Aipim é muito pesado pro coitado. Teria que ser no muque mesmo! “Segunda e última vez que faço esse bendito escondidinho”, falei.
Botei leite, margarina e requeijão e comecei a esmagar aipim. E haja muque! E mexe, mexe, mexe. Pote cheio, resolvi bater na vizinha e pedir um outro emprestado pra outra metade do aipim. Bato lá, suada, escabelada, acabada e pego outro pote. Mexe, mexe, mexe. “Quem foi que teve a infeliz ideia de fazer escondidinho mesmo?”, penso alto.
Dois potes lotados de purê de aipim, hora de desfiar a carne. Outro pote, dois garfos, e lá vai a Beta. Desfia, desfia, desfia. “Quem foi que pediu escondidinhooooo?”, grito pras paredes. Três potes cheios, ponho na geladeira e vou dormir.
Chega a quinta-feira e começo a montar os pratos. Carne desfiada no fundo da forma nova de vidro que a mãe acabou de me dar de presente, purê de aipim no meio e uma grossa camada de queijo mussarela por cima. Outra forma, mesma sequência. Outra forma, dessa vez um pouco menor, e lá se foram todos os ingredientes. Coloco as duas grandes no forno e espero os convidados chegarem. A pequena eu faria se eu visse que fosse faltar.
Começam a chegar as pessoas e eu ligo o forno, ainda fazendo cálculos e achando que das duas formas, sobraria muita coisa. “Mania de fazer comida demais, agora vai ter escondidinho pra semana inteira”, pensei lá com meus botões. Há, doce ilusão! Botei a primeira forma na mesa e ela durou apenas alguns minutos. Botei a segunda e vi que ela acabaria bem antes de dar tempo de ficar pronto o que estava na forma pequena. “Azar! É o que tem”. A forma pequena permaneceu sobre a mesa um pouco mais de tempo, mas quando vi, já estava vazia e se juntando as demais dentro da pia.
Sinal de que ficou bom? Acho que sim! Tô até pensando em fazer de novo antes de acabar o inverno. Os elogios compensam o trabalho!