Lá se foi, o carro (da minha sogra, novinho, não tinha nem seis meses de vida), o Play2, as mochilas, as comidas congeladas, as roupas, as carteiras, os celulares e principalmente, o Fuzarka. Ficamos enlouquecidos com a situação, sem saber o que fazer. Após tocar o interfone e chamar a Letícia e o Pipo (meu sogro) me veio a cabeça de ligar para o meu próprio celular que tinha ficado dentro do carro. Liguei a cobrar do orelhão que tinha na frente do prédio.
Para minha sorte, o vagabundo atendeu, e disse que somente queria o carro para fugir dali e iria me devolver o Fuzarka e todas as coisas. Achei estranho e não tinha esperança que isso fosse acontecer. Liguei mais algumas vezes e eles só queriam saber se o carro era rastreado. Respondi que não e que queria muito resgatar o cachorro. Então, após muito tempo tentando convencê-los, o bandido me propôs uma troca: O Fuzarka por R$ 1.000,00. Falei que era difícil, pois eles estavam com minha carteira e todos os cartões, e naquele momento, já se passava das 22h (horário que fecham os caixas eletrônicos). Bem debochado, ele não acreditou que um cara dirigindo uma nave daquelas, não teria dinheiro para pagar o “resgate”.
Subimos para o apartamento para pensar melhor no que havia acontecido. A Taís só chorava, estava muito nervosa. Eu nem tanto, porque já passei por assaltos com armas antes. Foi quando eu disse que daria o dinheiro para resgatar o Fuzarka. Catamos todo o dinheiro possível. Foi aquela confusão! Pedimos emprestado para a bisavó (que morava no apto do lado), para o vizinho, para os sogros e conseguimos arrecadar uns R$ 600,00. Teria que ser suficiente!
Liguei novamente para combinar a troca. Cheguei a pensar que seria fácil, mas eles disseram que eu teria que ir até Cachoeirinha. E nessa hora a coisa piorou! Além de não conhecer nada da cidade, já era tarde da noite. Todos estavam com medo, não queriam que eu ligasse de outro celular para o número não ficar gravado e também para não ir com outro carro, pois estavam achando que iriam roubar também.
Eu estava decidido, mesmo contrariando todos, peguei o dinheiro, chamei um táxi (que cobra mais caro por ter que atravessar a ponte que liga a Assis Brasil e Cachoeirinha. Imagina o que pensei…), e me fui. Novamente, cena de filme de terror. Após a ponte, percebi que a cidade estava quase deserta e, para ajudar, com uma névoa típica dos faroestes americanos. Pedi para o taxista me deixar no primeiro posto. Desci e fui ao orelhão em frente ao posto para ligar. Os vagabundos pediram para esperar mais um pouco.
Que sentimento ruim, uma mistura de ansiedade, medo e outros. Comecei a tremer. Não sei se era o frio ou o que, mas não conseguia parar. Pensei, dar 500 ou 450 reais não iria fazer diferença. Fui até a conveniência do posto e bebi umas três Smirnoffs Ice. Pronto, a tremedeira havia parado!
Liguei novamente e eles pediram para eu ir caminhando por aquela rua até o Tumelero, que ficava a mais de 1 km. Respondi que não, porque não iria me arriscar tanto. Pedi para eles irem até lá perto, e eles falaram que iriam dar uma passada para ver se não tinha polícia. Haja paciência! Nunca fiquei tão apreensivo.
Após mais algum tempo, liguei e pediram para eu entrar na primeira rua a direita depois do posto, deixar o dinheiro em um orelhão e voltar para o posto que, logo, deixariam o Fuzarka lá. Lá fui eu (agora sem tremer), mas a cena de filme de terror não saía da cabeça. Chegando ao orelhão percebi um vulto correndo para um beco, sei lá o que era, mas nem tinha coragem de olhar direito. Deixei o dinheiro e voltei para o posto. Mais espera…
Nessas alturas, a Taís me contou depois, que eles já estavam desesperados, achando que tinham me seqüestrado, matado e tudo de ruim que pudesse acontecer. Mas essa é outra história!
Nunca o tempo demorou tanto para passar. Voltei a ligar, falaram que eu tinha feito tudo certo e que tinham deixado o Fuzarka amarrado em uma lixeira, logo depois do orelhão onde tinha deixado o dinheiro.
Desliguei e sai caminhando muito rapidamente para lá. Quando vi não acreditei, o Fuzarka vivo, amarrado com um cadarço na lixeira, com uma cara de medo, não entendendo nada. Pela primeira vez ele não fez festa quando me viu, estava muito assustado. Desamarrei o mais depressa possível e saímos de lá. Fomos até perto do posto para pegar um táxi de volta.
Nessa hora fiquei mais calmo, estava voltando para casa com o Fuzarka são e salvo (nós dois!). Só depois de chegar em casa que fui me preocupar com o carro da sogra. Afinal de contas, o Fuzarka não tinha seguro!
Depois disso, além do Fuzarka ser conhecido como o garanhão do Lindóia (bairro de POA), também passou a ser reconhecido como o cachorro do seqüestro. E eu como o Homem mais corajoso do mundo… (mas essa parte é dispensável).
* Marcelo Cunha é educador físico, profe da blogueira, marido da Tatá e pai do Fuzarka e da Bellinha!