Sou apaixonada por Alice na País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Já li mil vezes. E já indiquei pra outras mil pessoas. Sei que muita gente acha que é um livro infantil, mas na verdade, ele é muito mais adulto do que a maioria imagina!
São muitas as lições que tirei dessa história que, além de animais falantes e poemas inusitados, ainda coloca uma menina pra comer cogumelo. E ela cresce, e diminui, e cresce de novo… sempre parecendo estar do tamanho errado. Vamos excluir o fato de que o cogumelo ali pode simbolizar drogas e nos ater para a incrível sensação de não se encaixar em lugar nenhum. Como se estivéssemos sempre no lugar errado. Quem nunca se sentiu assim?
Outra parte que eu gosto muito, é quando a Alice está muito grande e começa a chorar. Não demora muito para que o leque do Coelho Branco a faça diminuir e adivinha onde ela acaba caindo? Dentro de uma lago de lágrimas que ela mesma criou! Agora cá entre nós, são realmente as crianças que precisam aprender essa lição? “Eu gostaria de não ter chorado tanto”, disse ela.
Tem ainda o bebê da duquesa, que de tão maltratado, acaba virando um porco. Sorte da Alice que ela não vive no mundo real, ou esse bebê se transformaria num assaltante, sequestrador, homicida…
A crise de identidade da Alice, que se dá durante toda a história, é uma referência muito forte a maior dúvida da universo: Afinal, quem somos? “Quem sou eu?” Ah! esta é a grande confusão!” E Alice começou a pensar em todas as crianças que ela conhecia e que tinham a mesma idade dela, para ver se tinha se transformado em alguma delas. “Eu tenho certeza que não sou Ada”, ela disse, “porque os cabelos dela são enrolados e os meus não. E eu tenho certeza que não sou Mabel porque eu sei muitas coisas e ela, oh!, ela sabe tão pouco! Além disso ela é ela e eu sou eu e…puxa, que confuso isso tudo é!”. Pois é Alice, quem disse que viver era fácil?
Nem pra Rainha de Copas a vida é fácil. Antes mandar decapitar todo mundo do que ouvir críticas a si mesma. E mesmo tão rancorosa, ainda se viu disposta a contar histórias e ensinar Alice a fazer sopa de falsa tartaruga! Ninguém é totalmente mal… e ninguém é totalmente bom! É ou não é?
Por fim, quando a Alice decide voltar pra casa, se depara com uma bifurcação e para, pensativa e em dúvida sobre qual caminho seguir. Nessa hora aparece o Gato de Botas, que pergunta:
– Qual o problema Alice? Posso te ajudar?
– Estou em dúvida sobre qual caminho seguir.
– Aonde você quer chegar? – perguntou o gato.
– Eu não sei.
– Ora, se você não sabe aonde quer chegar, então qualquer caminho serve….
Preciso dizer mais alguma coisa?
E afinal de contas, por que mesmo que um corvo se parece com uma escrivaninha? Pouco importa, afinal cada um tem o seu País das Maravilhas e, pra chegarmos lá, basta se deixar levar pela imaginação…